Produções Científicas

A História da Escola Paulista de Enfermagem

Uma conversa com Ricardo Quintão Vieira

Processo de federalização da Escola Paulista de Enfermagem
Autora: Reis, Beatriz Alves [OBSERVATÓRIO-EPE]
Tese por: Vieira, Ricardo Quintão [UNIFESP]
Orientadora: Neves, Vanessa Ribeiro [UNIFESP] 


Fruto do interesse pessoal de unir em um projeto suas duas graduações, Ricardo Quintão Vieira – bibliotecário, enfermeiro e doutorando orientado pela Profa Dra Vanessa Ribeiro Neves – conversou com o Museu Virtual da EPE (MD-EPE) para contar um pouco mais sobre sua tese: A trajetória dos discursos científicos das editoras da Revista Acta Paulista de Enfermagem (1988 – 2018). Com defesa marcada para o meio de 2023, Ricardo descreve que a pesquisa se iniciou em 2018, 2 anos após a entrega da sua dissertação de mestrado, ambas realizadas no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UNIFESP.

Segundo ele, sua primeira graduação em Biblioteconomia e Documentação pela USP, despertou seu interesse por História e consequentemente em História da Enfermagem. Apaixonado por livros, ele relata que coleciona livros sobre História da Enfermagem no Brasil. Esse entusiasmo o aproximou das fontes históricas, que servem de objeto para sua atual pesquisa. Partindo dessa premissa de pesquisar com fontes históricas a História da Enfermagem, a revista Acta Paulista de Enfermagem é seu objeto/fonte de estudo. Com o objetivo geral de levantar os discursos para compreender a trajetória da revista no cenário editorial das revistas acadêmicas brasileiras e consequentemente entender quais discursos estavam sendo veiculados pela Acta entre 1988 e 2018 é que a pesquisa de Ricardo se baliza.

A hipótese apresentada por ele vai ao encontro de que os discursos produzidos pela revista em sua trajetória foram construídos tomando como base discursos externos a ela e, portanto, articulados internamente. Para tecer essa consideração, Quintão faz um trabalho de história oral, ao coletar sete depoimentos de editores que criaram e consolidaram a revista. Além disso, a outra parte da pesquisa qualitativa consistiu em ler e analisar os editoriais da Acta Paulista e também de outras revistas que tinham o mesmo perfil dela para realizar comparativos. Para Ricardo, ao articular essas duas fontes, a oral e a escrita, sua pretensão é realizar uma pesquisa triangular, ou seja, realizar “arqueologia do saber” nas formações discursivas dos depoentes.

Ao buscar compreender como a revista Acta Paulista, primeira revista acadêmica da UNIFESP, “saiu de um ambiente doméstico para o mundo” ao longo dos 30 anos de história, Ricardo realiza um trabalho metodológico pouco convencional para a área da Enfermagem. Tomando como referencial teórico autores como Michel de Certeau, historiador francês e Michel Foucault, filósofo francês, Quintão realiza um trabalho de relevância para compreender como esses editores, que ocuparam um lugar de poder na formulação de uma representação do real e articularam dentro de uma rede de colaboradores discursos que fizeram a revista se consolidar no mercado editorial acadêmico cada vez mais competitivo e internacional.

Com uma pesquisa que dialoga diretamente com a história do tempo presente, Ricardo apresentou em 2022 para a banca de qualificação resultados preliminares da pesquisa e como ele desenvolveu os objetivos propostos, além do trato com o objeto e com a metodologia. Ele reforça que a banca foi um momento muito importante, principalmente porque é a partir dos apontamentos dos professores que ele consegue refazer caminhos equivocados ou então, validar o trabalho que já estava se encaminhando.

Dessa forma, antes da defesa da tese ele nos conta alguns resultados, ou como apelidamos: os spoilers da tese. Ele elenca três tópicos importantes que já consegue relatar. O primeiro, diz respeito à criação da Acta Paulista que, para ele, teve como objetivo registrar o conhecimento produzido pela pós-graduação. Esse registro vale-se de uma necessidade de valorização da Enfermagem e também uma valorização social. Em segundo lugar, a internacionalização das revistas e a globalização da ciência são discursos encontrados na Acta que, para ele, dialogam com o contexto histórico da produção científica no Brasil e no mundo. Por fim, pode-se notar um “conflito panóptico” de controle exclusivo do periódico com o discurso da ciência aberta. Esse conflito, segundo ele, é fruto de uma discussão entre os pares e de discussões recentes sobre como um trabalho deve ser avaliado ou não avaliado.

A pesquisa desenvolvida por Ricardo Quintão, assume um lugar importante dentro da História da Enfermagem que busca, a partir dos discursos de revistas acadêmicas, neste caso da Acta Paulista de Enfermagem, compreender como esses impressos assumiram um lugar de poder e de valorização da Enfermagem criando um local de registro, mas também de articulações de pensamentos e ideias de um grupo de pessoas que se especializou e se internacionalizou dentro de um cenário global que cria a necessidade de mais conexões e pesquisas globais. Analisar a trajetória dos discursos da revista por meio de depoimentos, é lembrar que a História não é produzida apenas por escritos, mas que também por memórias e trajetórias que aqui são visitadas e merecem sua devida atenção e leitura.